Se houvesse algum termômetro na pequena sala de ginástica do hotel, ele estaria marcando mais que 40 graus. Tudo conspirava contra boas condições: a janela não abria, o ar estava quebrado e o ambiente era realmente pequeno, de forma que a umidade ficava irremediavelmente presa e transformando a sessão de corrida em algo próximo a tortura.
Isso sem contar que eu havia madrugado para pegar o vôo, estava de jejum e com um leve mal estar (daqueles que parece um aviso de gripe por vir).
O plano era simples: correr por uma hora e testar um pouco mais os limites do corpo em condições adversas. Da última vez que fiz isso em uma situação semelhante (veja aqui), fiquei verdadeiramente exausto – mas consegui completar 10km em um pace médio de 4:55. Desta vez, no entanto, eu quebrei no meio.
O que mudou? Normalmente, uma quebra não é fruto de um fator isolado mas sim de uma combinação deles. Se comparar com a primeira “corrida teste”, por assim dizer, houve apenas uma diferença concreta: o clima de calor e umidade certamente maiores devido ao tamanho da sala. Resultado: completei 10km em 1:02:51, com um pace médio de 6:17 min/km.
O ponto de quebra
Comecei com um leve aquecimento de 10 minutos, acelerando gradativamente até chegar nos 5 min/km (ritmo que mantive por cerca de 20 minutos). Depois de um total de 30 minutos, o cansaço começou a vir como o suor: de vez. As roupas, que pareciam ter se encharcado de um instante para outro, pesavam; a parte da frente do tornozelo começava a endurecer; um leve formigamento aparecia nas extremidades, indicando uma câimbra por vir; o estômago dava sinais de tensão. Mesmo após uma pausa para água, não consegui manter o ritmo e fui desacelerando lentamente, até estabilizar em cerca de 6:30 min/km. Com esse ritmo bem mais lento, me arrastei até o final.
No final, a corrida foi exaustiva – mas importante. Uma quebra aos 30 minutos de alguém que está relativamente bem preparado e que tem 6 maratonas e uma ultra no currículo ensina que correr depende não apenas de corpo e mente, mas também das condições do ambiente. É claro que, quanto melhor se preparar tanto corpo quanto mente, mais se conseguirá suportar condições desfavoráveis – mas isso não as elimina da lista de fatores fundamentais para uma boa prova. Já havia aprendido isso na segunda Maratona do Rio que fiz, onde enfrentei um calor de 32 graus em um percurso com pouquíssimas sombras – mas relembrar sempre faz bem.
Em algum momento do futuro pretendo voltar ao mesmo hotel que estou agora e simular condições semelhantes, repetindo o treino para checar se consegui mover o ponto de quebra. Será, no mínimo, uma experiência interessante para se medir os efeitos de um treinamento de longo prazo como esse, para Comrades!

Ricardo,
Muito interessante essa sua proposta de testar o limite do corpo em condições adversas. Sua narrativa me fez lembrar a Comrades deste ano, em regra, espera-se um clima agradável, todavia, ocorreu um calor atípico para o mês de junho na África do Sul, sem contar com vento contrário muito forte. O resultado daquela condição climática foram muitas quebras na prova. Ultra abraço e bons treinos!!!
Dionisio Silvestre
http://correrpurapaixao.blogspot.com.br
Com certeza – li bastante sobre a Comrades de 2013 e todos foram unânimes em falar da dificuldade. Fiz Two Oceans em 2013 e, apesar da temperatura estar tranquila, o vento foi assassino, chegando aos 50km/h. Mas a vantagem de provas assim é que, quando terminam, a sensação de realização é sempre maior.
Mas claro: continuo desejando que Comrades 2014 ocorra com dia bonito, temperatura amena e todas as melhores condições existentes 🙂