Uma das experiências mais interessantes durante uma corrida é ver a elite dominar as ruas. Em alguns percursos – principalmente os que incluem uma rota com vai-e-volta – os amadores acabam cruzando com nomes como Geoffrey Mutai, Meb e outros quenianos e etíopes.
E o que mais chama a atenção não é o pace – é o olhar. De alguma forma, a concentração de todos eles parece atingir um nível sobrehumano, como se se transformassem, simultaneamente, em uma mescla de predador buscando a caça e de presa fugindo da morte.
Fixo no horizonte, o olhar é desviado apenas por algumas gotas de suor que rapidamente percorrem a expressão neutra, inabalável, da face. O ritmo duro, constante, parece quase mecânico, como se homem e natureza tivessem virado uma única coisa.
Essa mescla, essa transformação de corredor em parte de um cenário móvel com qualquer coisa de selvagem, é uma das imagens mais inspiradoras que se pode ter.
Recentemente, achei um vídeo com o rei Geoffrey Mutai, vencedor das maratonas de Nova York e Boston, onde ele conta a sua história de vida em rápidos 4 minutos. Segundo ele, correr bem uma maratona envolve ser possuído por um espírito – espírito que se conquista à custa de muito suor durante meses de treinamento e muito tempo na rua, sozinho, desconectando-de do cotidiano e entrando naquele transe perfeito proporcionado pela endorfina.
É uma espécie de treinamento mental que, claro, deve acompanhar o treinamento físico na preparação para uma maratona ou ultramaratona. É o estado que se busca para uma boa conclusão de prova e, ao mesmo tempo, que dá sentido a todo o processo, do primeiro passo dado meses antes à linha de chegada.
Como inspiração é a parte mais importante do treinamento mental, ver testemunhos como a história de Mutai contada por ele própria acaba surtindo também um bom efeito. Vale conferir:
Rumo a Comrades 2022 
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