Quando acordei hoje, logo antes de sair para a rua, vi no feed do Twitter que a Maratona de Dubai acabava de acontecer.
Estive lá no ano passado e a notícia acabou trazendo à tona uma série de lembranças, possivelmente impulsionadas pela endorfina que já insistia em entrar no organismo.
Em janeiro de 2013 eu não tinha a menor ideia de que faria a Comrades. Estava me preparando para a Two Oceans, em março do mesmo ano, e usei a corrida no Oriente Médio como uma espécie de preparação.
Lembro-me que, lá, me ocorreu que as provas realmente importam menos que a jornada até elas – algo que acredito até hoje. A Maratona de Dubai é uma prova um tanto chata: absolutamente plana, em circuito que começa e termina no mesmo ponto e passando a maior parte do tempo pela mesma paisagem (que ainda por cima contou com uma forte neblina no ano passado); com relativamente poucos corredores, sem expo e sem até mesmo aquele calor que todos associam aos Emirados (uma vez que a prova é realizada sob os deliciosos 15 graus do inverno).
Ainda assim, foi provavelmente uma das corridas mais incríveis que já fiz na vida – e das quais guardo as melhores recordações. Ninguém vai para Dubai apenas para correr uma maratona: a prova é parte de uma viagem maior que, no meu caso, incluiu Muskat, no Omã, e Abu-Dhabi.
E correr Dubai significou a possibilidade de correr pela zona das embaixadas de Muskat, passando por prédios incríveis com aquela arquitetura árabe rebuscada, branca, absolutamente trabalhada. Significou diminuir um pouco o passo para absorver a vista do Golfo de Omã e, já nos Emirados, do Golfo Pérsico, com mares que fazem o Caribe ter inveja.
Significou um pouco de receio de usar shorts em um ambiente em que todos trajavam roupões brancos longos e turbantes.
Significou mesclar ares diferentes com vistas inusitadas, apimentadas por comidas totalmente exóticas.
Passar de mesquitas inacreditáveis para prédios futuristas em questão de minutos.
Conviver com árabes, indianos, europeus, americanos, africanos e toda uma plétora de civilizações concentradas em um espaço minúsculo, em oásis erguido em pleno deserto.
Correr, afinal, faz isso: te leva literalmente para outros cantos do planeta em que você pode testemunhar com os próprios olhos o quão imenso e plural é o mundo. Foi isso que fez ir a Dubai valer a pena – e é isso que mais motiva o treinamento para qualquer prova, destacando a tão sonhada Comrades para a qual tenho me preparado.
A Maratona de Dubai foi vencida hoje pelo etíope Tsegaye Asefa, com o tempo de 2:04:32 – bem perto do recorde mundial. Ela abriu, oficialmente, a temporada das grandes corridas de 2014.
Depois dela, Two Oceans ficou mais próxima.
E Comrades, claro, também.
Que os 127 dias que faltam para a rainha das ultramaratonas sejam muito bem aproveitados!
Deixe um comentário