O corpo fala. Se tem uma coisa que eu tenho aprendido nesses meses de treinamento para Comrades, é isso.
Há poucos dias, comecei a sentir uma dor chata no tornozelo – algo semelhante a uma tendinite. Fiquei especialmente preocupado ontem, dia de descanso, quando ela permaneceu presente – e quase não saí para o longão de hoje.
Acordei pensando duas, três, quatro vezes. Mas aí saí.
Tinha duas coisas claras:
1) Não forçaria nada: no primeiro sinal de dor, tomaria o rumo de casa e daria o treino por encerrado.
2) Iria sem música, podcast ou nada que desviasse a atenção à biomecânica e postura, deixando o tornozelo conscientemente mais relaxado e ainda diminuindo o ritmo.
A parte de diminuir o ritmo é curiosa: já tinha ouvido de amigos e “especialistas” na prova que fazer longões mais lentos era fundamental no caminho para Comrades. Mas nunca prestei uma atenção muito grande a isso. Não me matava de correr, claro – mas ficava em um ritmo de 5’30″/km, talvez puxado demais para o volume a ser rodado. Estava na hora de mudar.
Resultado no longão de hoje: não senti nem lembrança de dor durante todo o percurso – e ainda rodei mais do que o previsto na planilha. No total, completei 43K em 4h34, fazendo um pace médio de 6’26″/K.
Cheguei em casa ainda com gás e apenas com aquelas dores musculares normais que, enquanto escrevo este post, já estão passando.
Não fosse a dor no tornozelo, eu não teria prestado tanta atenção à biomecânica hoje. Foi difícil me concentrar de maneira tão constante no relaxamento do tornozelo por mais de 4 horas – mas, depois de um tempo, o processo inteiro acabou entrando no automático.
Não fosse a dor no tornozelo, eu não teria – finalmente – ouvido o conselho que tantos já haviam me dado para diminuir o ritmo em longões. Foi difícil ignorar o relógio e seguir em um pace quase forçosamente mais lento – mas isso me deu um gás que não imaginava ter depois de uma maratona.
Acredito realmente que o melhor treinador é o nosso próprio corpo. Dores ou lesões são apenas as formas que ele tem para se comunicar de maneira mais enfática com a nossa mente.
Ricardo,
É muito boa a sensação quando saímos para um treino e no final tudo se encaixa perfeitamente. Daqui até o dia 01 de junho vai ser muito neste estilo: “cautela e caldo de galinha”. Ultra abraço e bons treinos!!!
Dionísio Silvestre
http://correrpurapaixao.blogspot.com.br/