Há um aspecto bem positivo na loucura que é encarar duas provas longas, de esportes praticamente diferentes (ultra de montanha versus maratona de rua), com apenas um mês as separando.
Quando se treina para trilhas, tiros e intervalados até fazem parte da planilha – mas são balanceados por intermináveis subidas, caminhadas em ladeiras de terra com 30% de gradiente de inclinação e longões de 4, 5, 6 horas. Aprende-se a ter paciência, persistência e a aproveitar a jornada. Aprende-se a curtir cada passo até mesmo como mecanismo de sobrevivência: sem isso, qualquer prova mais longa é abandonada.
No treino para maratona de rua, o relógio – ao invés da paisagem – é quem manda. Os tiros são mais curtos e mais intensos; os longos são menores; as ladeiras, se comparadas às de trilha, são praticamente pequenas lombadas. Sua-se mais, exaure-se mais, estoura-se mais. Mas aprende-se a desafiar os limites como algo mais rotineiro, praticamente todos os dias.
Pessoalmente, prefiro mesmo o mundo das ultras, que tem o ato de correr como algo mais zen do que competitivo – mas a variação é positiva.
Mudar tudo, de um mês para outro, nos dá perspectiva, nos faz pensar, nos traz certezas sobre pontos que sequer acreditávamos ter dúvidas. Essa, acredito, tem sido a vantagem real de condensar provas tão distintas entre si em um período tão curto de tempo.
Nada nos tira mais da zona de conforto do que desafiar, com o tempo, os limites do próprio corpo.
E nada costuma trazer mais benefícios do que pequenas viagens assim, rumo ao desconhecido (ou ao esquecido).
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