Nunca tive tão pouco tempo para me preparar para uma maratona (a de Sampa, que utilizarei como qualificação para Comrades).
É bem verdade que não tenho nenhuma meta assassina: preciso apenas de um sub-4 horas para conseguir largar do Curral D lá na África do Sul. Mas, como principal ponto contra, há os três meses de transição que fiz para as trilhas e que culminaram em 16 horas atravessando 80km de montanhas a menos de um mês atrás.
Ultras matam velocidade e performance – não dá para discutir isso. Só que meu treinador, aparentemente, quer que eu bata o recorde do Dennis Kimetto marcado lá em Berlin!
Olha só as mudanças no ritmo de treinos:
– Os longões de verdade sumiram. Hoje, por exemplo, o tempo total planejado era de 1h45. Segundo o treinador, eu ainda estou com resistência presa ao corpo e é mais efetivo buscar velocidade.
– Intervalados, progressivos, tiros e todo o acervo de palavrões que quem corre ultras costuma detestar agora são a norma. Veja a imagem abaixo, dos treinos feitos desta semana (até hoje). Para entender: azul é trote, verde é ritmo de maratona, amarelo de meia e vermelho é correr para a morte. Com um detalhe: a sequência de treinos é quase sem descanso.
– Ladeiras longas e altimetria? Quase sumiram. Hoje, elas apenas fazem parte do percurso normal, sem que eu precise caçar ladeiras.
O curioso disso tudo é que o processo tem sido tão desafiador que está até interessante, gostoso. Realmente estou mais rápido – dá para sentir isso em cada treino.
E, quando chego de volta, as dores são diferentes das dos treinos que estava habituado. Mais intensas – mas mais rápidas para desaparecerem. Ficam concentradas nas panturrilhas e não nas coxas, na bacia e não nas costas, no abdomen e não nos pés.
É como mudar de esporte dentro do mesmo esporte.
Dói e, de certa forma, até surpreende, como se estivesse subitamente mudando de rota no meio do percurso. E talvez seja justamente esta mudança de rotina que esteja fazendo esse mês de preparação para a Maratona tão singular.
O problema é que, agora, fazer apenas um sub-4 já será pouco para acalmar as expectativas.
Ricardo,
Quem te treina é um tal de Ian? Quem é ele?
Abraço, Nato
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Ian Corless. É um corredor de ultra inglês que tem, na minha opinião, o melhor podcast de corrida que conheço. O cabra é bom: tem dado muito resultado pra mim, mesmo com treinamentos feitos a distância e na base de troca de planilhas e papos via Skype. O site dele é http://www.iancorless.org (ou http://www.talkultra.com para o podcast).