Dizem que se deve prezar o descanso depois de esforços intensos. Que se deve elevar a volumetria de corrida aos poucos, entre 10% a 20% por semana, para preservar as articulações e evitar problemas. Dizem que planilhas devem ser construídas com aquele equilíbrio perfeito entre treinamento e exaustão.
Não discordo de nada disso, claro – quem sou eu para questionar anos e anos de “sabedoria esportiva”, se é que isso existe? Mas há momentos em que se deve mesmo ignorar mente e corpo e correr com o coração.
Meu treinador sumiu essa semana: foi cobrir a Marathon de Sables, lá no Saara, e não deixou nada programado para mim nos últimos 15 dias. Para a semana passada, tudo bem: estava mesmo me recuperando da Ultra Estrada Real e o combinado era seguir de acordo com a vontade, sem forçar a barra.
Mas já entrei nessa semana novo, inteiro e preparado para iniciar com fé o treino para Comrades. E agora?
Bom… na falta de planilha, segui o coração.
Na terça fiz uma série de dois tempos (10′ e 12′) que realmente me tiraram o sangue; quarta emendei em 20km bem corridos pelo Ibirapuera no fim do dia; e ontem me mandei para o parque, com uma fadiga razoável, para fazer 1 hora em ritmo leve. Somando o final de semana, devo fechar esses 7 dias com algo na casa dos 75km rodados – bem mais do que os 40 da semana passada.
Mas quer saber? Foram dias em que a palavra “correr” poderia ter sido substituída por “cruzar” manhãs e noites, atravessar chuva com aquela sensação de flutuar entre os pensamentos e as luzes amareladas nos postes.
Não sei se foi o ideal para se começar uma nova fase nova de treino… mas certamente está me fazendo um bem danado!
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