Quinta-feira, 3 de agosto, 4:30 AM.
Treinar ciclismo em uma cidade como São Paulo é diferente de treinar corrida. Na corrida, basta colocar um tênis e começar a partir da porta de casa.
No ciclismo, as preocupações são outras: o trânsito tem um peso maior, o equipamento exige asfaltos quase utopicamente lisos, o risco de assalto é real. Como lidar com isso?
Com organização.
Assim, entrei em uma assessoria mais focada em triathlon e me juntei a eles em, inicialmente, três treinos por semana: terças e quintas às 5 da manhã e sábados às 6:30.
5 da manhã, diga-se de passagem, já a partir do local de treino, na USP. Em outras palavras: meu despertador agora precisará cantar às 4:15 ao menos dois dias por semana. OK… sempre considerei que dormir deve ser algo deixado para depois que morrermos.
5:00 AM.
Cheguei na USP para o meu primeiro treino. Como essa é a hora exata que os portões abrem, um mini trânsito de carros carregando bikes já se formava. Durou 2 minutos.
Saí, me localizei, cheguei ao ponto de largada da assessoria, me paramentei de capacete e luvas e sapatilhas de clipe.
Dei o primeiro impulso.
Sem queda.
A sapatilha com clipe era um terror em minha mente. Para quem não conhece, é um tipo de calçado que se prende aos pedais para permitir que bike e ciclista virem uma espécie de elemento único. Funciona… mas há um certo equilíbrio necessário para se montar, clipar os pés e seguir em frente (e, ao final, para se desclipar os pés sem tombar na rua).
Medo vencido.
Começamos dando umas voltas pela USP e, em seguida, subindo a Biologia – um trecho mais íngreme que costuma ser bebido aos golões por corredores de ultra ou montanha. Subimos uma, duas, três vezes. Deu vontade de mais.
Me familiarizei com as marchas. Aprendi a trocar de volantão para volantinho, aumentando a cadência e buscando mais eficiência. Nas descidas, procurei ser mais cauteloso, evitando voar como os demais ciclistas já habituados àquilo tudo. Ainda estava começando.
Experimentei, testei, senti a bike, o asfalto, as respostas do corpo.
A cada par de minutos, ia deixando na rua um pouco da tensão dos novatos. Aos poucos, fui me soltando, me fazendo mais confortável, mais solto, mais… leve.
6:14 AM.
Alguma mágica acontecia.
De repente, estava rodando só, vendo o céu raiar por trás das árvores e sentindo o vento lambendo o rosto. Não faço ideia da velocidade que estava… mas estava voando.
Estava leve.
Estava como que fluindo por uma corrente de ar adrenalinado, vendo, aos lados, outras correntes levando outros ciclistas por entre paisagens absolutamente singulares.
Respirei fundo, sorvendo cada átomo de ar que ia de encontro à minha boca levemente aberta.
Gravei um filme inteiro em minha mente.
Entendi o esporte.
Não só o ciclismo, até então estranho para mim, mas esse duo entre pedalar e correr, entre sentir o ar e a terra; esse duo que, se tudo der certo, me permitirá cruzar o mais selvagem e fantástico dos mundos – a África – usando como combustível tanto a inspiração que emana do próprio continente quanto a que será gerada pelos Unogwajas para as comunidades locais.
Tudo fez todo o sentido do mundo.
Nada mal para um primeiro treino.
6:40 AM.
Depois de 22.9km rodados – ainda pouco para o tempo todo que passei na USP – era hora de voltar à vida cotidiana. Estava em plena quinta-feira, afinal, e o trabalho já começava a se materializar nos primeiros emails do dia.
Caí em uma conclusão fabulosa: aquela hora e meia rodando a USP não era um evento único – era o começo de toda uma nova rotina.
Massa Ricardinho, firme e forte para 2018.
Forte abraço
Firme e forte, Cracra!!!
Poxa, Nato indicou seu blog, estou mergulhada nele a dois dias rs
Obrigada por compartilhar suas experiências de forma tão claras e cheias de sentimentos, estou na torcida.
Shosholoza!
Valeu Lilika!! Espero q goste do mergulho 🙂