Os dogmas que eu não acredito

Não sou, claro, nenhuma sumidade sobre treinamento. Tenho apenas a minha experiência comigo mesmo – pouco até para me cacifar a opinar sobre o assunto.

Mas isso não significa que não tenha as minhas opiniões, ainda que desprovidas de qualquer embasamento científico ou estatístico mais amplo. E, como esse site é meu… bom… nada me impede de expressá-las como eu bem quiser.

A primeira delas é sobre a tão cegamente pregada necessidade de alongamento.

Há já inúmeros estudos destruindo qualquer argumento tradicional sobre essa prática, então nem preciso me prolongar muito aqui. Vou apenas pela linha que me parece mais óbvia: se você está prestes a passar horas correndo, de que adianta esticar todos os seus ligamentos e tirar deles justamente a fundamental função de “mola propulsora”? E depois? Com a musculatura cansada depois de 10, 20, 40 ou 100km, qual o sentido em estressá-la ainda mais? Nenhum.

A segunda é sobre o reforço muscular, algo fortemente recomendado por 9 em cada 10 treinadores. Também não acredito tanto em sua eficácia – ao menos não para um corredor como eu. Vale frisar isso aqui: se você está buscando pódiuns, então até pode fazer todo o sentido do mundo reforçar a musculatura que mais utilizará para garantir uma maior capacidade de “explodir performance”. Mas, se não estiver, se seu intuito for apenas chegar dentro do tempo limite e aproveitar a jornada, o próprio treinamento deve ser o suficiente para fortalecer a musculatura certa na medida certa. Para mim, pelo menos, funciona: em anos correndo ultras de todas as distâncias, nunca me lesionei de maneira grave.

O que funciona, então, em minha opinião? Correr, oras. Simples assim: ir para o mundo e entregar-se à mais óbvia das leis da especificidade.

Sim: dependendo do regime e volume de treino, exageros sempre podem ser cometidos e males como fratura por estresse podem aparecer. Há remédio para isso? Claro: ouvir o próprio corpo, adaptando a planilha a ele, e, sempre que possível, usar o terreno a seu favor. Para que ficar apenas no asfalto se há tantas trilhas e montanhas maravilhosas por aí? Trilhas, nesse sentido, são sempre perfeitas: suas variações de terreno e altimetria forçam a quebra de um ritmo único, constante, e demandam uma adaptação constante da biomecânica. O resultado? Elas permitem que o impacto seja constantemente distribuído pelos diferentes músculos e articulações.

No final, tudo pode se resumir a uma pergunta óbvia: quer maneira melhor de treinar a sua musculatura para corridas do que correndo?

Acima de tudo, eu acredito que esporte deva ser algo que gere aquele tipo de prazer metafísico, zen, absolutamente celestial. A partir do momento que você o complica e passa a exigir sessões de tortura como alongamentos ou musculação, ele simplesmente deixa de fazer sentido.

 

 

 

 

2 comentários em “Os dogmas que eu não acredito

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  1. Oi Ricardo!!

    Adoro seus textos e muitas vezes penso: “ah, esse foi o melhor..” Aí vem outro…

    Não sei se esse é o medalha de ouro, mas sem dúvida a visão heterodoxa mais exata do que eu penso!
    Parabéns pelo esforço esportivo, nas palavras e no debate de ideias!

    Abs

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