Não podia reclamar da primeira parte da sua jornada. No total, pedalara apenas cerca de 30km para fora da Cidade do Cabo quando se deparara com uma caminhonete que parecia seguir no mesmo sentido que a sua bússola.
Esforçando-se para falar, explicou-se ao motorista – um fazendeiro das proximidades – e conseguiu dele não apenas carona, como também casa para dormir e comida para saciar a fome. Não que Van Heerden – o fazendeiro – tivesse entendido aquela conversa sobre uma corrida chamada Comrades a quase dois mil quilômetros de distância. Em verdade, ele nunca sequer ouvira falar da prova e apenas se compadecera do que parecia a personificação da ingenuidade.
“Você pretende mesmo chegar assim, apenas com sua bicicleta, lá em Natal?”, ele perguntou.
“Sem a menor sombra de dúvidas”, ouviu de imediato. “É lá que está o meu destino.”
Embora fraca, a voz de Phil havia assumido um timbre tão decidido, tão carregado de certezas, que o fazendeiro não perguntou duas vezes.
Seguiram viagem em silêncio e, em poucas horas, chegaram à sede da fazenda, onde Phil pôde comer, tomar um banho e ajudar com algumas tarefas como forma de produzir seu agradecimento.
“Se todos os dias forem assim”, ele pensou naquele final de tarde, “chegarei na largada em melhor forma do que jamais estive.”
Os dias, no entanto, não foram todos assim.
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