Cheguei em Ferrera às 11:30 da manhã da sexta e encontrei, na frente da pequena (e única) igreja da minúscula vila perdida pelo norte da Itália, os irmãos Giuseppe e Carlo Zucca.
Aqueles dois senhores me mostrariam, na falta de uma palavra melhor, a História: eles eram, afinal, os filhos de Giovanna Freddi, a italiana que salvou a vida dos três soldados que fugiram do campo de concentração de Ferrera e que, em seguida, deram início a toda a história das meias vermelhas. Para ler a história inteira deles, vá a esse post aqui.
Aqui, colocarei as imagens que consegui registrar lá. Ei-las:
Logo que foram capturados na batalha de Tobruk, na Líbia, algumas centenas de prisioneiros aliados foram distribuídos por campos de concentração italianos. Não eram campos de extermínio, como Auschwitz, mas sim fazendas de trabalho forçado. Essa foto, acima, é da entrada de Ferrera-Erbogogne, pequena vila que, à época, tinha menos de mil habitantes. Era lá que muitas das fazendas que receberam os “prisioneiros-escravos” – incluindo Sidney Feinson e seus dois companheiros, George e Basil, ficavam.
Essas casinhas acima, tão bucólicas hoje,eram o campo de concentração. Algumas centenas de prisioneiros e de guardas (um para cada cinco pessoas) moravam, enfrentando uma rotina pesadíssima de trabalho forçado.
Em um determinado ponto, já perto do fim da guerra, três desses soldados fugiram por uma fenda em uma cerca.
Fugiram… mas não sabiam bem para onde ir dado que estavam em um país estrangeiro, distante de suas casas e sem nenhuma noção nem do idioma local e nem da geografia exata.
Este local, abaixo, costumava ser um milharal, com folhagens altas o suficiente para servir de esconderijo. eles passaram alguns dias ali até serem resgatados pela Giovanna Freddi.
Absolutamente contrária a tudo que os nazistas e fascistas representavam, Giovanna, então com 17 anos, levou os três fugitivos para a sua casa – esta da foto abaixo:
Lá eles ficaram por alguns dias, escondidos de tudo e de todos. O risco, no entanto, era tamanho, que eles decidiram mudar de esconderijo para evitar colocar a família que os acolhera em perigo (uma vez que a ordem dos nazistas era executar sumariamente qualquer um que auxiliasse os inimigos).
Giovanna acabou conectando-os a um padre, também membro da resistência, que os abrigou na torre da igreja local.
Eis a igreja, cuja torre aparece atrás da casa do pároco:
E eis também o interior da torre, onde os três moraram por alguns dias:
Depois de muitos planos, o padre conseguiu organizar o plano de fuga dos três até a Suiça, onde eles eventualmente foram liberados. E foi nesse momento da fuga final que os três, já habituados ao medo, pactuaram entre si que, caso sobrevivessem, usariam meias vermelhas até o último dia de suas vidas como forma de lembrar e honrar a audácia necessária para buscar a própria liberdade.
Não há registro dos dias finais de George e Basil, mas sabe-se que Sidney Feinson usou as meias vermelhas até o dia de sua morte, em 19 de abril de 2003, aos 82 anos de idade.
Esse, abaixo, é o Sidney Feinson logo que foi libertado, na Suiça:
E esse é ele em 2001, com meias vermelhas (que aqui parecem mais rosadas pela qualidade da imagem):
Hoje, essas meias vermelhas simbolizam palavras como coragem, sonho, audácia, perseverança – e saíram da história desses três soldados para entrarem na de milhares de pessoas mundo afora.
Há, obviamente, um elo incrível entre elas e o Unogwaja – mas esse eu deixo para o livro que já está prestes a ser publicado.
Obrigada por nos presentear com esses relatos, aguardo meu livro ansiosamente
Lilika
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Ele chegará antes do q vc imagina!