Treinando sem receita

Não há como se preparar para um evento como o Unogwaja e seus 1700km de bike + 90km de corrida em 11 dias sem ao menos algumas gotas de insegurança.

Estamos treinando o suficiente? Estamos treinando demais? O equilíbrio entre bike e corrida está certo? Se aumentar um, atrapalho o outro?

Tenho aprendido que, nesses desafios ainda pouco explorados pelo mundo e que nos ensinam os nossos próprios limites, as respostas para tantas perguntas quase sempre são individuais. E aprendi olhando os meus colegas Unogwaja, do presente e do passado, comparando os treinos de todos.

Alguns mergulham em aulas consecutivas de spinning, martelando intensidade pura por períodos menores de tempo, sem mexer muito no treino de corrida. Outros alternam: dedicam-se exclusivamente à corrida por uma semana e, depois, à bike por outra. Alguns abraçam o overtraining com fé, ensinando o corpo a funcionar sob cargas monumentais de estresse.

Há ainda os que treinam com uma disciplina mais frouxa – encaixando o que der, quando der – e outros que marcam-se por objetivos menores (como um triathlon aqui, uma maratona ali, uma prova ciclística acolá, tudo pontilhando um calendário maior).

Nenhum desses modelos funcionaria para mim. Por outro lado, dificilmente o meu modelo funcionaria para os meus colegas.

E qual é o meu modelo? O que está sendo receitado pela primeira assessoria com quem me identifiquei na vida, a BR Esportes: foco maior no pedal, onde tenho menos experiência, e manutenção da corrida. Tudo determinado por um equilíbrio hiper disciplinado onde a forma física combinada é medida com precisão para garantir uma melhoria sem nenhum risco de lesão gerada por fadiga. Mas, ao mesmo tempo, tudo no limite máximo do corpo – até porque não há como se preparar para algo assim sem explorar terrenos desconhecidos.

Por hora, eu sou esse gráfico aí embaixo, representado principalmente pela linha azul que mostra a evolução física geral, combinada: melhorando de maneira contínua, sem picos ou vales súbitos, coordenando o estresse muscular (linha rosa) com o cansaço (linha amarela) e alternando os músculos envolvidos na bike com os recrutados na corrida para otimizar cada átomo de energia que tiver em mim.

Confesso que estou muito, muito cansado. Mas, aos poucos, descobrindo que posso chegar um pouco mais longe a cada dia que passa – e esse tipo de conhecimento é essencial para quem se dispõe a fazer um desafio como esse.

Mas, reforço, o que estou fazendo comigo e com o meu treinamento não serve de parâmetro para nenhum dos meus colegas Unogwajas. Nem para mim mesmo, aliás. Só descobrirei se esse modelo funcionou, afinal, quando estiver em alguma proximidade segura da linha de chegada da Comrades, no dia 10 de junho de 2018.

O Unogwaja tem esse ponto de curioso: antes de nos firmarmos em um time, precisamos mergulhar fundo nas nossas próprias e solitárias individualidades, criando dentro delas os preparos necessários.

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