Um amigo me perguntou, ontem, se eu não treinava em esteiras ou ergométricas.
“Não quando posso evitar”, pensei comigo mesmo.
Em tese, não seria exatamente ruim: ambientes fechados permitem controle, viabilizam a execução de uma planilha com precisão cirúrgica e, de lambuja, ainda nos deixam ver episódios legais de alguma série interessante no Netflix. Isso sem contar, claro, no treino mental imbatível de se ficar girando por horas a fio no mesmo lugar.
Mas o problema é justamente esse: o tédio.
No meu caso, ao menos por enquanto, os pedais variam de 2 a 6 horas e as corridas, de 1h30 a 3h. É tempo demais para brincar de hamster.
O problema das quatro paredes é esse: sobre em controle o que falta em imprevistos, em surpresas, em novidades que só se percebe quando se sai cruzando a natureza (seja ela verde ou cinza).
Nas ruas, a cada imprevisto, a cada surpresa, a cada novidade, a mente ultrapassa as pernas e voa longe ficcionando cenas, criando enredos improváveis para personagens cotidianos, visitando a própria realidade com estalos e rompantes de deduções que, não fossem as ondas de endorfina, dificilmente viriam.
Na academia, esporte é algo cruamente físico, dependente do estresse celular e do intercâmbio de moléculas burras; nas ruas, no entanto, o esporte se torna majoritariamente mental, incentivado e inspirado muito mais pelas sinapses que pelos suores.
Arriscaria até dizer que são atividades quase incompatíveis de tão opostas, atividades que assemelham-se, e ainda assim a distância, apenas pelos movimentos repetitivos que encenam.
Sei, claro, que toda e qualquer opinião nessa linha é estritamente individual – mas, para mim, simplesmente não há como se preparar para esportes como ultras, que demandam tantas horas ou mesmo dias de atividade contínua, sem treinar a mente fora do tédio repetitivo das quatro paredes.
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