Não vou dizer que foi o longão mais incrível do mundo: havia esticado a noite anterior com amigos por mais tempo que o bom senso aconselharia e tive problemas com o estômago que, sem dúvidas, atrapalharam qualquer forma possível de concentração no percurso.
Ainda assim, apesar disso tudo – e de um tempo muito mais lento que desejaria – foi um longão sensacional. Saudades de ultras operam milagres: já fazia largos meses que eu não rodava mais que a distância de uma maratona e tudo, do cansaço à transposição do muro, da mente mandando no corpo, do segundo vento atropelando as dores… tudo fazia com que qualquer problema fosse imediatamente ignorado.
E assim eles foram já quando saí correndo de casa até a largada da Maratona de São Paulo, no Ibirapuera. Quando encontrei os tantos amigos que irão para a África em junho – e que eu reencontrarei depois da minha longa jornada, na chegada da Comrades. Quando fiz a segunda largada, dessa vez para encarar os 42km com os 10 já devidamente traçados pelas pernas. E quando percorri a cidade, ainda que cambiando meu foco entre percurso e banheiros químicos.
E assim foram ficando para trás Ibirapuera, Jockey, Marginal, Praça Panamericana, Parque Villa-Lobos. E ponte, e meandros já tão conhecidos da USP, Avenida Politécnica.
E volta do Cavalo com a subida que faço semanalmente de bike.
E volta furando túneis e pegando a JK. E República do Líbano.
E chegada.
Depois de exatos 53km, confesso, estava bem cansado – mas, apesar de tudo, mais inteiro do que estive há tempos.
Matei os 53km em quase 6 horas cravadas, desenhando um tempo e um contexto que dificilmente fariam qualquer corredor sorrir.
Mas, talvez desafiando a lógica competitiva, terminei a prova e a minha pequena ultra pessoal com uma felicidade embasbacante, entusiasmado como raras vezes no passado recente com esse longo e intenso passeio pela minha cidade.
Ultras são isso, afinal: provas muito mais pessoais, muito mais particulares que se costuma imaginar – e que têm como natureza a característica de desafiar lógicas e racionalidades.
E assim, com um tempo torto, um estômago tonto e um sorriso pregado nas bochechas, fechei esse longão tão cheio de imprevistos na reta final da Comrades e do Unogwaja.
Fechei, que bom, com aquele sopro de entusiasmo e motivação tão fundamentais para encarar essas próximas (e últimas) semanas do treinamento.
Agora, sim, já dá para sentir os ares de Cape Town e a largada.
Uau! Parabéns!
E o dia seguinte é descanso ou “algumas horinhas” pedalando? Muito impressionante… abs
O dia já amanheceu no pedal!!
Parabéns Ricardo, sua disciplina é de tirar o chapéu.
Valeu, mestre!!
Parabéns Ricardo, cheguei a vê-lo no domingo, mas não tive oportunidade de cumprimentá-lo, farei no lançamento do livro em breve e em Junho estaremos firme e forte na Rainha das Ultras, será minha estréia. Grande abraço e Shosholoza.
Legal Márcio! Nos veremos em breve então!