Mais inteiro que eu imaginava quando primeiro montei na minha bike, há uns 8 meses atrás.
As dores, aliás, se concentram onde eu sequer imaginava. As pernas, por exemplo, estão intactas – somente horas depois do treino do dia é que as sinto pesadas, lentas, mas sem sinal nenhum de dor.
Mãos e costas, por outro lado, já reclamam mais alto.
Durante o pedal, as dores nas costas vem, despejam agulhadas em torno do pescoço, e vão. As mãos, agarrando o guidon por 5, 6, 7 horas seguidas, também pedem descanso.
Procuro relaxar os músculos, mudar de posição, pedalar de pé para também aliviar os tantos ossos que eu sequer sabia que existiam no traseiro.
Aí, do nada, o dedão do pé esquerdo começa a gritar de dor. A constante batida e a pressão no interior da sapatilha cobram um certo preço. Por que apenas o dedão esquerdo? Nem ideia: foi assim que o corpo decidiu doer.
Aí relaxo também o pé, tento achar alguma posição mais confortável e que faça pressões diferentes a cada pedalada. Funciona: a dor vai embora, voltando apenas tempos depois para exigir uma repetição desses ritual interno de alívio.
Enquanto isso, voltam as pontadas nas costas e nas mãos.
E lido com uma de cada vez, calmamente, conscientemente, enquanto me foco no cenário repetitivo à frente.
160km no Riacho Grande, afinal, são dez idas e voltas; na ciclovia, são onze e meia; na ergométrica, são pouco menos de 6 horas e meia.
Tudo treino mental, tudo treino para saber lidar com as microdores – aquelas tão pouco óbvias, mas tão mais importantes em longas distâncias.
Nos próximos três dias ainda tenho 250km para pedalar antes dos 50km de corrida no sábado.
Destes 250, 100 serão na USP e 150 na ergométrica (em duas sessões de 100 e 50, respectivamente).
Terei totalizado algo como 870km de pedal – pouco mais de metade do que rodarei nos dez dias lá na África. Mas o suficiente, agora já tenho certeza, para largar lá com aquela sensação de preparo ideal.
Sigamos.
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