Sexto dia de simulado do Unogwaja, 810km rodados até agora.
Desde o terceiro dia, o corpo decidiu se habituar. Ele dói em alguns momentos, claro – mas são mais desconfortos do que dores propriamente ditas. Os mesmos desconfortos: costas, pulsos, dedão esquerdo do pé.
Mas aí é só mudar um pouco de posição, pedalar de pé por um punhado de minutos e pronto: elas simplesmente desexistem. A passe de mágica.
A cabeça também já aprendeu a lidar bem com esses longos tempos no pedal. Neste sentido, aliás, as sessões de 6 e 4 horas na ergométrica ajudaram bastante. Me ensinaram a tapear o tempo com pequenas metas, com viagens mentais por histórias e hipóteses de destinos, com as mais inocentes brincadeiras individuais.
E teve hoje, claro.
Hoje foi o primeiro dia que voltei à USP desde que roubaram minha bike lá. E comecei no mesmo horário: 5 da manhã, com o breu cobrindo o céu e uma brisa temerosa soprando. No mesmo horário, mas não no mesmo dia: hoje, afinal, é quinta, dia tradicional de treinos de ciclismo pela Cidade Universitária.
Assim, fui aproveitando os pelotões que se formavam aqui e ali para cortar as ruas da USP mais acompanhado e menos… vulnerável. Ajudou a espantar o resto de medo que ainda persistia, fazendo o coração bater levemente mais alto a cada vez que um carro esquisito zunia perto ou que a sensação de isolamento voltava.
Mudei caminhos, risquei do mapa o ponto em que fui assaltado, acrescentei quilos de subidas novas para compensar os dias que rodei na ciclovia.
Aí o dia amanheceu.
E o que restava de medo desapareceu.
E pude rodar mais 10, 20, 30, etc. quilômetros sob a luz leve do amanhecer por aquelas ruas já tão intimamente familiares.
Originalmente, deveria ter rodado 100K hoje. E teria feito até mais – mas o tempo e as sisudas obrigações do dia começaram a pressionar.
Estiquei o relógio até onde deu e pedalei 90, deixando 10 para compensar no treino de amanhã, o último no pedal desse simulado.
Fechei os 90 e guardei a bike no carro.
E saí.
E cheguei em casa, mais atrasado que deveria, mas com uma sensação ímpar de missão cumprida.
Faltam 60km de pedal – moleza para quem já rodou 810. E 50 de corrida – uma espécie de presente final desse simulado.
E depois é só manutenção, talvez com algum levíssimo polimento, até a largada já tão próxima lá na África.
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