Faltando pouco mais de duas semanas para eu embarcar, me ocorreu – vejam só – que chegar na África com um certificado de vacinação contra febre amarela vencido talvez pudesse ser um problema.
Sim: a ANVISA e todos já deixou claro para todo o país que quem tomou a vacina há mais de 10 anos – exatamente o meu caso – não precisa se preocupar com sua validade, que foi estendida para todo o sempre. Mas veja o certificado:
Perceba esse trecho abaixo, circulado:
O problema não é o que a ANVISA acha ou deixa de achar, claro: é se as autoridades sul-africanas entenderão essa “mudança” de postura do governo brasileiro, principalmente considerando que a única prova dela será a minha palavra. Oficialmente, o documento registra – em inglês – que a vacina está vencida.
E aí, claro, bateu aquele pânico.
E se, depois de tanto suor e sacrifício, uma burocracia besta como essa me impedisse de viajar e de fazer o Unogwaja? Teria eu sido mesmo tão retardado ao ponto de ter ignorado esse detalhe e deixado-o para a última hora?
Bom… a resposta da última pergunta é óbvia: sim.
À noite, quando o pânico bateu, varri a Internet em busca de possibilidades de agendamento para emissão do certificado. Vi aeroportos, postos de saúde, Emílio Ribas… tudo. E nada: as disponibilidades começavam a aparecer apenas láááááá em junho.
Tarde mais para mim. Tarde demais? O coração voou.
Logo na primeira hora da manhã de ontem (ou na segunda, já que na primeira eu estava pedalando lá na USP), me mandei para o Emílio Ribas. Expliquei a minha delicada situação para um recepcionista tão emocionado quanto uma parede branca. Ele apenas me esperou chegar ao fim e me perguntou: “você tem horário agendado?”
“Não.”
“Aí complica. Precisaria ter feito o agendamento.”
“…”
“Sua vacina foi tomada aqui?”
“Não, foi lá em Congonhas.”
“Então só lá para ver o certificado. Aqui realmente não tem como.”
Pulei num taxi. Voei para o aeroporto.
Quando cheguei lá, uma pequena confusão estava armada entre uma senhora que precisava do certificado internacional e a atendente que explicava que, infelizmente, eles só estavam dando doses fracionadas da vacina que, por sua vez, não permitiam a emissão do certificado. A discussão levou longos minutos enquanto eu, ansioso, escutava o coração bater mais forte.
Quando a senhora desistiu, derramei meu problema sobre a atendente. Estava perdido? Havia algo a ser feito? Teria mesmo tudo sido por nada? E agora? E AGORA? E AGORA???
“Tome essa senha e aguarde até ser chamado.”, foi só o que ela respondeu com um educado ar de tédio tão contrário ao meu estado.
Aguardei.
Fui chamado em 5 minutos.
Outro atendente, atrás de um computador, pegou meu certificado antigo e meu RG. Conferiu.
A impressora deu um leve pigarro e cuspiu um papel.
Ele carimbou.
Eu assinei.
Tudo se resolveu: era o novo certificado.
Suspirei de alívio.
No fundo, tudo até que foi bem fácil. Mas fica uma lição (que provavelmente jamais aprenderei, já que não é a primeira vez que coisas assim acontecem comigo): documentos importantes nunca devem ser vistos em cima da hora. Sim, no final tudo acabou dando certo: mas a adrenalina gasta pela minha desorganização foi, no mínimo, desnecessária.
Agora não resta mais nada a conferir. É só viajar.
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