E agora?

A Comrades foi no dia 10 de junho. Estamos no dia 29.

19 dias já se passaram desde que esse desafio tão colossal foi vencido com direito a toda dramaticidade que naturalmente envolve a travessia de um país inteiro em tão pouco tempo. E, depois desses 19 dias, uma pergunta começou a ecoar aqui dentro: e agora?

Bom… há duas respostas para esta pergunta: uma sobre o presente e outra sobre o futuro. Me concentrarei na primeira e talvez mais importante delas: a que tem a ver com o agora.

Há toda uma infinidade de coisas que se aprende em algo como o Unogwaja. Uma infinidade.

Aprende-se que família é algo que se constrói no dia-a-dia: não há um único membro do time que eu não considere como um irmão cujos laços foram construídos a base do compartilhamento de ácido lático, frio e endorfina.

Aprende-se que tudo, absolutamente tudo o que queremos é possível. Basta decidirmos nos entregar aos nossos próprios sonhos. Há 11 anos eu estava prestes a ser operado para retirar seis tumores de um corpo sedentário e severamente acima do peso; hoje, já posso dizer que cruzei toda a ponta sul da África com as minhas próprias pernas em 11 dias. Belo contraste.

Aprende-se que só se pode viver a vida no presente: não há como se pedalar 1.650km e se correr 90km pensando constantemente na massacrante soma final desses números; não há como começar o dia 1 pensando no dia 11. A carga fica pesada demais, insustentável. Ao contrário: só se consegue vencer cada dia quando se pensa não no que virá nos dias seguintes ou mesmo na chegada, mas sim no que os próximos minutos nos trarão – como a quantidade de quilômetros que restam até o almoço, até o final de uma reta entediante ou até o topo de uma subida que parece interminável. Pensar na jornada, e não no destino, é a única forma de se transpor adversidades mantendo-se inteiro, íntegro.

Aprende-se que a vida é muito, muito mais simples do que costumamos acreditar. Porque, ao longo do caminho, nos deparamos com pessoas encarando de frente dificuldades que sequer conseguimos imaginar em nossas realidades; cruzamos costões, montanhas e desertos que provam o quanto somos irrelevantes perante a magnitude da natureza; testemunhamos babuínos, antílopes, búfalos e incontáveis outros animais sobrevivendo aos seus cotidianos sem se estressar mesmo com as ameaças mais concretas às suas sobrevivências; enfrentamos temperaturas congelantes seguidas por calores sufocantes, chuvas torrenciais, ventos insanos e todo o cansaço do mundo sem sequer cogitar parar de girar o pedal ou deixar de colocar um pé à frente do outro. Porque aprendemos que, por maiores que sejam as adversidades, só conseguiremos vencê-las se nos mantivermos sempre, sempre em movimento (algo que, no fundo, não é exatamente tão complicado assim).

Aprende-se que estresses explosivos, produções desnecessárias de sucos gástricos, trovões internos e surtos de negatividade servem apenas para nos tirar do prumo e nos distanciar do que realmente queremos para nós, do que realmente buscamos.

Aprende-se a ter um tipo de calma verdadeiramente impressionante, constante, inabalável.

E aprende-se, portanto, a responder em definitivo a pergunta mãe de toda ansiedade: e agora?

Pois bem: agora, como não podia deixar de ser, é continuar em movimento, é continuar em busca de novos territórios desconhecidos, é continuar vivendo um dia após o outro com a certeza já comprovada de que o hoje é e sempre será mais importante que o amanhã.

Agora é seguir em frente. E aproveitar ao máximo cada passo dado.

4 comentários em “E agora?

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  1. Parabéns mais uma vez pela conquista e pelo texto, muito bom e inspirador! Pensar na jornada, e não no destino.

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