Sábado foi o primeiro dia em que eu saí para rodar com a Shiv, minha nova bike (e primeira de triathlon que já experimentei na vida).
Parecia que estava aprendendo a andar de bicicleta de novo: levei tempo para me entender com os aerobars, as barras prolongadas à frente do guidão que permitem uma posição bem mais aerodinâmica (mas que redefinem toda a noção de equilíbrio sobre duas rodas). Demorei a me entender com o câmbio, que fica à frente dos aerobars e, portanto, distantes dos freios. Estranhei a “dureza” do quadro, que parecia menos suave que os de bikes de estrada tradicionais.
Enfim, tudo, tudo parecia (quase assustadoramente) diferente.
Até que deixou de ser. Assim, de repente, enquanto cruzava uma reta deserta que se colocou no caminho lá por dentro da USP.
E, ali, me descobri em um novo ritmo, com toda uma nova fluidez, enquanto cortava o ar com braços estendidos e relaxados sobre os aerobars. Enquanto balançava todo o quadro suavemente, de pé, para ganhar força. Enquanto mergulhava em um novo tipo de groove, me integrando à mecânica e ao vento que parecia feliz em ser cortado por essa junção de homem e máquina, metamorfoseados em um único ser biomecânico. Enquanto respirava levemente, contrapondo um esforço mais suave e arredondado a uma velocidade mais agressiva, tão intensa quanto natural.
Foi uma sensação de vôo livre abençoada, riquíssima, quase divina.
Quase – ao menos por enquanto.
Porque ainda levará algumas semanas até que a musculatura se acostume a essa nova postura exigida por uma bike de TT, que troca conforto por aerodinâmica com uma simplicidade tão determinada.
Terminei o sábado feliz, exalando endorfinas puríssimas, mas dolorido nos triceps e nas costas.
Saí para rodar com ela novamente no domingo, desta vez na ciclovia da Marginal (plana o suficiente para me permitir usar mais os aerobars). Mesma sensação: integração total ao ar, ao vento, ao céu.
Mesmas dores também – mas sei que só o tempo e a experiência me ajudarão com isso.
Seja como for, esses primeiros dias mais focados em um treinamento sério de triathlon já foram uma bela descoberta.
Agora é seguir adiante.
Os próximos degraus que espero pela frente? Transformar essa fluidez em um confortável (e significativo) ganho de velocidade sobre duas rodas; melhorar a leveza no outro elemento, a água, aprimorando a biomecânica da natação; e sentir o efeito desses dois esportes no desempenho do que eu realmente mais amo, a corrida.
Que venham todas e mais algumas descobertas assim no futuro.
Meu próximo ciclo está começando e tem apenas a Comrades já marcada, em junho, juntamente com uma série de triathlons de diferentes distâncias desenhada nos planos.
E começo bom de ciclo de treino é assim mesmo: já chega com uma mescla de suspiros, endorfinas e “ansiedades controladas”.
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