Quando liguei o GPS mara marcar o início do pedal, às 6:30 do sábado, ainda estava considerando desistir.
O dia ainda estava amanhecendo, uma garoa fina alisava a lâmina de água já formada no asfalto do Riacho Grande e poucos, muito poucos ciclistas mostravam alguma disposição mínima para encarar o dilúvio que viria.
Ainda assim, segui.
Ainda bem.
A garoa fina logo tomou coragem, cresceu, engordou e virou tempestade. Poças que pareciam pequenas lagoas se formaram. O barulho do vento misturado ao da água cortada pelos pneus gritavam nos ouvidos, como se estivessem desafiando os atletas a persistirem.
Havia um trecho no final do percurso, na subida que leva à Anchieta, em que até as cores pareciam sumir e dar lugar a um preto e branco reluzente, apocalíptico, bruto.
Bruto.
Foram quase três horas indo e vindo pela estrada, somando pouco mais de 80km, sentindo cada gota cortante de uma chuva que crescia a cada minuto.
As pastilhas de freio chiavam quando eram requisitadas, os outros ciclistas ecoavam encorajamento a cada ultrapassagem, até os carros buzinavam palavras de força.
Foi o esporte no seu estado mais cru, mais intenso, mais perfeito.
E sabe de uma coisa? São esses contratempos, essas variáveis incontroláveis que fazem aventuras valerem a pena.
Foi muito, muito bom ser relembrado disso.
Foi uma manhã de sábado absolutamente adrenalinada. Bruta. Forte. Desafiadora.
Endorfinada.
Foi uma manhã de sábado absolutamente sensacional.
(Vídeo feito pelo Marcelo Ortiz, da BR Esportes, única assessoria que teve ciclistas presentes nesse paradisíaco inferno)
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