Rotinas de treino intenso são sempre, sempre deliciosamente belas. Até por serem quase sempre impossíveis.
Uma coisa é treinar para um esporte só, como a corrida. Com cinco ou no máximo seis sessões semanais é relativamente fácil encontrar espaços no calendário para executar todas, ainda que uma ou outra precise mudar de dia ou de distância para acomodar a agenda.
Mas transforme isso em três esportes.
Acrescente dificuldades técnicas em dois deles: o ciclismo, que precisa de dias e horários específicos, e a natação, que precisa de acesso a piscinas minimamente grandes e vazias.
Jogue no caldo o trabalho, a família e a vida naturalmente turbulenta de uma cidade grande como São Paulo. O que sai daí?
Uma necessidade de se dominar a arte do improviso como ninguém.
Esta semana, por exemplo, tenho três viagens a trabalho.
A natação programada para a segunda? Impossível se quisesse pegar o vôo a tempo: ela passou para terça.
Que horas? Não pela manhã, pois precisava pedalar na USP às 5 e estar em casa às 7:30 para organizar as coisas e me arrumar para o trabalho. Sobra a noite – depois de eu correr do trabalho para casa, transformando a locomoção em uma sessão de treino.
No dia seguinte, mais um vôo – por sorte às 10:50, o que me dá tempo para encaixar uma sessão de bike no rolo antes de me arrumar.
Aí é zarpar para uma sessão de reuniões em Porto Alegre e, à noitinha, tomar outro vôo para Joinville.
No dia seguinte: corrida cedo, bem cedo, antes das reuniões do dia.
À noite, novo vôo de volta para casa.
Descanso leve. Vida doméstica “normal”.
Até a sexta, que já abre com natação antes do sol raiar e fecha com uma corridinha na volta do trabalho, provavelmente depois do sol se pôr.
Sábado? É o dia do longão (seja um treino de transição “bike-corrida-bike-corrida”, um pedal de cerca de 100km em algum lugar montanhoso ou um simulado completo de triathlon).
Domingo? Última sessão de natação da semana. Só para “soltar o corpo”, como diz o treinador lá do outro lado da planilha.
Até a próxima semana.
E o que esperar dela?
Por sorte (ou milagre), nenhuma grande intempérie, garantindo que todas as sessões de treino possam seguir o cronograma planejado.
Mas não é o normal.
O normal é esperar o mesmo que a semana anterior.
O normal é esperar o mesmo que quase todas as semanas anteriores: compromissos programados ou imprevistos, sempre brigando com a agenda e com qualquer ingênua vontade de dormir, forçando essa especialização no improviso.
Treinar triathlon é se habituar a viver na corda bamba dos limites mentais.
E gostar disso? Bom… gostar desse estilo de vida é, provavelmente, um sinal bem claro de que triatletas amadores já caíram – fundo – nesse abismo da insanidade.
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