Como foi a Maratona de São Paulo

Criticar a Yescom, principal organizadora de provas de corrida de rua no Brasil, virou uma espécie de esporte nacional há alguns anos. E, em grande parte, até havia mesmo motivos relevantes: a confusão generalizada (e desnecessária) da São Silvestre, a resistência em fazer ajustes mínimos em maratonas e meias pela cidade, a própria comunicação no site, extremamente truncada e árida etc.

Mas, talvez pela concorrência que começou a aparecer (principalmente com a SP City Marathon), talvez por um súbito despertar da Yescom em si, o fato é que eles parecem ter acordado desse tão característico torpor dos monopolistas para a realidade.

A Maratona Internacional de São Paulo, ocorrida neste último domingo, foi prova viva disso.

Sim, é uma maratona dificílima.

Quem corre ultra costuma ouvir de amigos e parentes que “correr uma maratona deve ser facílimo para quem enfrenta 90, 100, 240km”. Isso não é verdade: maratonas são sempre provas difíceis, complicadas. Se, em ultras, as distâncias maiores nos fazem abrir mão de uma obsessão maior pelo pace, nas maratonas o ritmo é tudo. É olho no relógio, no asfalto e em alguma meta pessoal como sub-3 ou sub-4. E como, em corridas, o que mata é sempre o pace e nunca a distância, a conclusão é uma só: maratonas doem.

Mas costumam haver fatores de alívio, por assim dizer. Uma maratona em uma cidade diferente, como Buenos Aires, inspira pela novidade. Uma maratona no Rio encanta pela beleza. Uma maratona em Chicago, Nova York ou Berlim empolga até os fios de cabelo por conta da multidão e da organização.

Mas São Paulo não tem nada disso: é uma maratona essencialmente cinza, com subidas disfarçadas de plano e túneis abafando a emoção.

Isso é ruim? Depende.

Se seu objetivo for curtir visuais incríveis, a Maratona de SP certamente não é para você. Por outro lado, se seu objetivo for se desafiar em uma das provas mais casca grossa do país, então não há oportunidade melhor do que nas ruas da paulicéia.

O percurso

O percurso anterior da Maratona de SP era repleto de cotovelos e idas-e-voltas por lugares que, em essência, eram chatos. A passada perto do Parque Villa-Lobos parecia uma perda de tempo, ver os atletas de 25km cruzarem a linha de chegada enquanto estávamos na metade do caminho maltratava a mente e percorrer a Av. Politécnica era sempre um calvário.

Ponto para a Yescom que, finalmente, ouviu os corredores e decidiu mudar a rota.

Nada mais de Villa-Lobos. Nada mais de chegada para os 25km na USP. E – a melhor parte – nada mais de Av. Politécnica!

Há algumas voltas pelo centro, uma ida e vinda no Minhocão, umas visitas nos redutos dos “walking dead” paulistanos e pronto. Depois disso o percurso se transforma na larga 23 de maio, na ponte que cruza a Marginal Pinheiros, no interior da USP e na volta até a chegada no Ibirapuera.

Sendo bem prático: o percurso inteiro ficou muito, muito, MUITO melhor.

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Os amigos

Maratonas locais são sempre experiências únicas para quem mora na cidade. É o meu caso – assim como o caso de tantos corredores que habitam nesta que é a mais populosa cidade da América do Sul.

Nesse sentido, ao menos para nós, a Maratona de São Paulo tem algo que nenhuma outra jamais terá: a sensação de se estar correndo permanentemente entre amigos.

Se você estiver voando, encontrará alguém igualmente veloz com quem compartilhar a empolgação; se estiver quebrado e se arrastando, também encontrará alguém com quem chorar em conjunto as mesmas pitangas.

As questões práticas da organização

Houve, em edições anteriores, todo tipo de problema: falta de água, staff indicando corredores para locais errados, falta de banheiro químico etc.

Bom… não vou dizer que a questão dos banheiros químicos tenha sido resolvida, mas todas as demais evaporaram.

Com poucos pontos de divisão, os staffs foram perfeitos. Havia água – gelada, inclusive – em todos os pontos. Havia batata, isotônico (ou algo parecido à base de guaraná), Coca e muito mais, tanto oferecido pela organização quanto por pessoas comuns que decidiram aparecer e apoiar os atletas.

A Maratona de São Paulo nunca foi incrível em participação de apoiadores, de fato – mas, desta vez, ainda que em locais específicos, a quantidade parece ter crescido substancialmente. Fantástico.

A sensação final?

No meu caso, acabei quebrando no último quarto da maratona, o que naturalmente gerou uma sensação meio amarguinha por algum tempo. A culpa foi do percurso? Da garoa? Da Yescom, com muitos sempre acusam? Claro que não: a culpa foi minha, que certamente não treinei tal qual deveria.

Mas ainda assim esse amargor foi passageiro: o próprio fato de ter corrido a prova junto com tantos amigos fez com que qualquer decepção fosse impossível, inviável.

Se você pensa em fazer a Maratona de SP, portanto, não pense duas vezes. Considerando que a Yescom mantenha-se no caminho de ouvir os corredores e aprimorar a prova, ela certamente valerá a pena.

Mas treine: correr em São Paulo é uma experiência difícil e recheada de ácido lático.

7 comentários em “Como foi a Maratona de São Paulo

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  1. Oi.

    Dessa vez vou discordar em alguns pontos. Por anos a prova teve falhas importantrs que foram, aos poucos, amenizadas. Esse ano não teve isotônico, o que considero problema grave. Teve um posto com guaraná, que achei bem ruim, mas não é substituto.

    O percurso mudou por problema de trânsito, não por estratégia da organização.

    Enfim, acho que esse ano foi um retrocesso….

    Abs

  2. Participei da primeira prova em 1995, foi gratificante poder voltar tantos anos após. Sempre acreditei que essa maratona poderá ser um dia uma das Majors. Mas além da insuficiência de banheiros citada por vc, acredito que houve falha também na quilometragem.

    1. Olha… em que pese meu gps ter marcado 44,5km, eu sempre credito esse tipo de diferença a não fazer as tangentes com a devida perfeição. Gps marcando a mais é normal – o problema é quando marca a menos.

  3. Pena que não encontrei você para parabenizá-lo pelos textos maravilhosos.
    Mas, principalmente, pelo seu mais novo desafio: o triathlon, que até imaginei seria moleza para você.
    Seus depoimentos nos levam para o “rolo” da sua bicicleta ou para as pistas.
    Absolutamente fantástico!
    Parabéns.

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