Um dos pontos mais altos de se estar envolvido em esportes de endurance é que se acaba conhecendo e convivendo com pessoas que efetivamente desafiam os Deuses. Vivi isso intensamente no Unogwaja de 2018, inclusive, quando corri ao lado de potências como o André Costa, generosidades como David Tay, energias que desafiam o tempo como Andy Steele, olímpicos como Lee Persee.
Mas, em 2018, eu era parte do time – e isso costuma nos deixar míopes quanto à força do time em si.
Do outro lado do balcão
Agora, no entanto, passei para o lado da organização e atuei desde a captação de inscrições ao processo de seleção à mentoria. Isso, sim, dá perspectica.
Há quatro brasileiros no time de 24 Unogwajas desse ano: Felipe Huggler, Ana Paula Dias, Márcio Barbosa e Dionísio Silvestre.
Quatro monstros, acrescento, dos quais dois estão sob minha mentoria: Ana Paula e Silvestre.
Ana Paula é uma mescla de perseverança, força de vontade e coração. Se entregou de alma ao desafio e parece não ter medo de absolutamente nada. Coragem pura, inspiradora.
Silvestre é uma máquina: com incontáveis Comrades e BR135 nas costas, já pedalou por tantas estradas, competitivamente e a passeio, que contar a quilometragem se torna impossível. Não bastasse essa experiência invejável, sua humildade e disposição em ajudar os colegas é algo dificilmente visto.
Além desses dois, estou mentorando também uma outra dupla – só que sul-africana: Tristan e Deon.
Tristan foi ciclista profissional – carreira que considero a mais desafiadora de todo o universo dos esportes. Dentre as provas em seu currículo, por exemplo, ele tem a lendária Paris-Roubaix, provavelmente a mais difícil de todo o ciclismo de estrada mundial.
Deon é uma máquina parecida com o Silvestre. Para se ter ideia, como forma de arrecadar doações ele está se dispondo a fazer coisas como pedalar 8 mil metros de altimetria em uma tacada só, nadar 15km e assim por diante.
São, portanto, lendas, heróis do endurance, humanos realmente diferenciados.
A parte difícil mesmo é a minha: como mentorar mestres como esses? O que dizer para pessoas assim, de quem se tem mais a aprender que a ensinar?
Não tenho resposta para essas perguntas, claro. Mas uma coisa posso garantir: conviver com elas é, por si só, uma aula de grandiosidade.

Nobre amigo Ricardo,
Literalmente, sou apaixonado pela forma com que desenha suas resenhas, sempre inspiradoras. E foi justamente nessas leituras que o sonho do Unogwaja Challenge foi sendo alimentado e construído. Com o seu apoio, ousei e hoje estamos irmanados na jornada – mentor e discípulo – Eis um excelente momento para registrar toda minha Gratidão, com G maior. Muito obrigado de coração!!! Forte abraço!!!
Me lembro q foi no seu blog q li os primeiros posts sobre a Comrades que, eventualmente, acabou mudando a minha vida. Incrível como as coisas acontecem e como acabamos nos irmanando assim, sob as endorfinas desses esportes de endurance que curtimos tanto né? Essa jornada tem sido e continua sendo incrível demais, mestre!