Saciando a abstinência com um pedal por Sintra

15 dias depois de ter fechado a UB, estava já tomando um avião para participar de um evento em Lisboa, Portugal.

Estava ainda em estágio de recuperação, enferrujado por algumas dores que insistem em ultrapassar seus vistos de turista nas articulações e, sobretudo, com alguma carência qualquer por novas metas, novas estradas, novas endorfinas.

Portugal ajudou.

Porque se ainda era cedo demais para correr por horas e horas a fio e se estava frio demais para singrar esses mares lusitanos… pedalar não era má ideia.

Principalmente em um sábado ensolarado, já depois do evento ter chegado ao fim e com uma agenda tão limpa quanto o céu. Principalmente com uma serra tão majestosa quanto a de Sintra logo ali, clamando por ser descoberta. Principalmente quando a vontade de marcar caminhos com suores já começa a ser insuportável.

Pois bem… era hora de alugar uma bike, dar um jeito de chegar à base de Sintra e subir.

Subir

Da base, o Palácio da Pena parecia tão alto quanto o Everest. Convite perfeito.

Com meu companheiro lusitano de última hora, Gonçalo, como guia, fomos lentamente abrindo nosso percurso até a região do Castelo dos Mouros. Matas altas, asfaltos perfeitos formando “V’s” a cada curva, temperaturas caindo, vistas se desacortinando.

Montanhas, sejam subidas a pé ou sobre rodas, sempre nos presenteiam com vistas inesquecíveis.

A de Sintra não foi exceção. Ao contrário: ela parecia ansiosa para nos servir de vistas a cada instante, a cada curva, a cada queda de temperatura. Da base até o topo foram 500 metros, aproximadamente.

E de lá, cortamos a serra pelo outro lado. Descemos em vôo livro, zunindo pelo asfalto até o fim do mundo. Semi-literalmente, digo: chegamos ao Cabo da Roca, ponta mais ocidental do continente europeu e dona de uma vista para o mar difícil de ser batida.

Hora de descer mais. Até a cidade vizinha, Cascais, já fora do Parque de Sintra e com uma transição de paisagens impressionante. Saem acácias gigantes e entram areiais, saem pequenas aldeias e entram mansões nababescas, sai a onipresença de ciclistas e entra o trânsito frugal de um sábado.

Foi o tempo de passar por parte da rota do Ironman de Cascais, que acontecera faz poucas semanas, e voltar.

Subindo.

Subindo.

Subindo.

Desta vez até ainda mais alto, chegando na entrada do Palácio da Pena… para descer novamente até o carro.

E essa foi, para a minha surpresa, a parte mais desafiadora: descer por vias espremidas e cheias de tuk-tuks carregando turistas, com pavimento de paralelepípedo e inclinações de mais de 10%. Quem diria que depois de 65km pela serra seriam as mãos que, de tanto espremerem os freios, chegariam massacradas!

Mas, enfim, foram dores passageiras.

O que não foi passageiro foi a experiência, a memória parafusada na cabeça de ter cruzado tanta paisagem incrível, tantos séculos de história, tantas novas primeiras impressões.

Agora, 15 dias depois da UB515, estou já inegavelmente em abstinência, sentindo falta de alguma aventura diferente no horizonte. Mas esse pedal por Sintra, confesso, foi uma dose suficiente de química corporal para me manter saciado por mais algum tempo.

Espero que novas doses não demorem.

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